O surgimento da lei da inclusão tem gerado dificuldades para tanto professores quanto alunos, pois apesar do longo tempo de preparação que foi dado ao sistema de ensino até execução plena da lei em 2016 muitas escolas ainda se sentem despreparadas para fornecer apoio aos seus alunos com necessidades especiais. Um dos quadros mais comentados é o Transtorno do Espectro Autista (TEA), tanto pela sua variabilidade quanto pelo seu histórico de exclusão do ensino tradicional, e isso tem levado a conflitos entre pais, alunos e professores.
A presença de crianças com TEA nas escolas tradicionais é necessária para seu melhor desenvolvimento, pois o desafio da interação social constante e dificuldades relativas a isso são um bom modelo de como será sua convivência fora do ambiente escolar. Escolas especiais tendem diminuir o ritmo de aprendizado, sendo geralmente reservadas para crianças que não consegue de maneira alguma se adaptar ao ambiente escolar. Era comum a estimativa de que mais da metade das crianças com TEA apresentavam também Deficiência Intelectual, mas se sabe atualmente que com educação adequada menos de 20% apresentam esta deficiência. Nós apenas tivemos que aprender como ensinar crianças e adolescentes com TEA, de modo a diminuir o impacto que o quadro causa no aprendizado.
O TEA apresenta variações individuais importantes, com algumas crianças tendo sintomas mais graves que outras, e o que gera conflito e angústia para uma criança ou adolescente com TEA não necessariamente gera para outras. É comum que professores e colegas sintam-se perplexos ante um quadro de choro ou raiva, sem compreender as causas do mal estar que aflige seu estudante com TEA, e dada a dificuldade de comunicação, muitas vezes ele mesmo não consegue apontar o que lhe incomoda. Um aluno com TEA pode se sentir muito angustiado por um colega seu ter faltado a aula, por exemplo, pois isso atinge sua dificuldade de lidar com quebra de rotina, mesmo que não interaja com este aluno ausente socialmente. Ou talvez esteja incomodado pelo fato de sua professora estar usando um vestido ao invés de calça e blusa, ou pelo calor do ambiente. A conversa com os pais e profissionais que cuidam do caso é necessária para esclarecer o que aflige o aluno com TEA muitas vezes, bem como maneiras de manejar o mal estar.
Também é necessário compreender que muitos alunos com TEA são pensadores visuais, aprendendo mais facilmente por estimulação de imagens do que por explicações verbais. É comum também a dificuldade em crianças com TEA em Teoria da Mente (capacidade de separar o que é de conhecimento pessoal do conhecimento da outra pessoa), sendo muitas vezes importante que professores se atentem a este detalhe nas respostas. Em aulas de educação física a dificuldade que alguns alunos com TEA podem ter de copiar o comportamento do outro pode levar a dificuldades, bem como a alta tolerância a dor que algumas destas crianças apresentam. As dificuldades sociais do TEA também podem dificultar sua convivência com seus colegas.
É sempre necessário a presença de uma psicopedagogo para assegurar que o conteúdo passado ao aluno é de qualidade e que ele tem conseguido acompanhar, bem como individualização do material didático. Com esclarecimento do quadro e cuidados na sua inserção no âmbito escolar geram resultados importantes e garantem que uma criança e adolescente com TEA se desenvolva em um adulto mais saudável e produtivo, capaz de lidar com independência maior em sociedade.