Frequentemente estes comportamentos são trazidos por familiares ou amigos preocupados, pois os pacientes que apresentam sinais de auto mutilação sentem-se envergonhados de falar a respeito, por medo de serem julgados e ouvirem mais uma vez que deveriam parar de fazer isso. No entanto, poucas vezes é perguntados ou dito porque estas ações são realizadas e por quais motivos deveríamos nos preocupar com isso.
É necessário evitar o estereótipo comum de que estas ações são feitas para se conseguir atenção. Por mais que em alguns casos isso seja verdadeiro, casos de automutilação com este objetivo tendem a ser a exceção e não a regra, eles vêm atrelados a outros comportamentos e sofrimentos, afinal é mais comum e menos indolor demonstrar-se frustrado e irado através do grito ou lágrimas e agir de outras maneiras mais vistosas para se conseguir atenção.
Na imensa maioria dos casos, o comportamento de machucar a si mesmo vem de uma necessidade de buscar alívio do sofrimento mental através da dor, seja através de cortes, seja socando paredes até os os ossos e músculos doerem. No momento em que nos machucamos nosso cérebro libera endorfinas para aliviar a dor, e estas mesmas endorfinas podem aliviar ansiedade ou sintomas depressivos momentaneamente. Infelizmente, o alívio não dura muito tempo e a pessoa sente a necessidade de manter as lesões corporais de maneira mais profunda e por mais tempo, na tentativa de buscar mais alguns momentos de alívio. Existem outros motivos para auto-lesões, como para aliviar pensamentos compulsivos ou delirantes, mas estes são raros, assim como o famoso “para chamar atenção”, estes são assuntos a serem levados e discutidos com o profissionais que cuidam da pessoa acometida.
O principal problema destes ferimentos, especialmente quando feitos na forma de cortes e outras lesões da pele, é que eles criam uma porta de entrada para infecções, aumento o risco de ferimento na lesão em sí, bem como na penetração de bactérias em órgãos internos como coração e rins. E claramente ainda existem os óbvios prejuízos sociais, visto que nossa sociedade não encara com bons olhos pessoas que sentem a necessidade de se machucar, reforçando, assim, os sentimentos e ações de isolamento.
Existem algumas formas de tratamento tanto psicoterápicas e medicamentosas, visando reforçar a capacidade de auto-controle e diminuição da sensação de alívio com as lesões, mas a principal forma de garantir que uma pessoa abandone este comportamento é cuidar da causa principal do mal estar, como um quadro de depressão, ansiedade ou transtornos que afetam autocontrole da pessoa acometida por este transtorno. Vencendo o preconceito e trabalhando de modo ativo, positivo e esclarecido podemos garantir que este comportamento possa ser deixado de lado em prol de ações mais saudáveis para o controle da ansiedade e mal estar.
Por: Dr. Ricardo Minniti Rodrigues Pereira – Médico Psiquiatra